Acabo de fechar A Garota do Lago, do autor estadunidense Charlie Donlea, publicado pela Editora Faro Editorial em 2017. E posso iniciar dizendo que ele é um daqueles thrillers que promete um mergulho em águas profundas, mas que, no final, se revela um banho de lago: refrescante, mas sem a complexidade de um oceano.
Deixa eu me dirigir primeiro a você, pessoa leitora. Se a sua busca anseia por uma história que funciona como uma serpente, se arrastando com um ritmo sedutor e te levando a virar páginas quase sem perceber — este livro é para você. Donlea é um mestre da curiosidade, usando capítulos curtos e mudanças de perspectiva como iscas. É aquele tipo de leitura que faz você dizer “só mais essa página” e, quando se dá conta, já varou a madrugada.
A ambientação em uma cidade pequena, com sua atmosfera pacata e cheia de segredos sussurrados, é o palco perfeito para esse mistério. Sinto que a narrativa me isolou do mundo real, criando uma bolha de suspense muito bem-vinda. É como se a cidade fosse uma personagem silenciosa, mas crucial para a trama.
Agora, preciso ser sincera: os personagens são como sombras projetadas na parede, você entende suas formas, mas não sente sua textura. A protagonista e seus coadjuvantes cumprem seu papel, mas falta aquela centelha de humanidade que faz a gente torcer ou se identificar de verdade. Quanto ao clímax, confesso que, para mim, a revelação final chegou com o estrondo de um foguete molhado. Se você já é veterano em suspenses, como eu, é possível que anteveja todo o fio da teia que leva à conclusão. A sensação é a de um quebra-cabeça montado com habilidade, mas cuja imagem final já conhecíamos.
Minhas pontuações para quem ama e estuda escrita: observe como Donlea domina o ritmo como um maestro. Seus capítulos são curtos, e seus ganchos, muito bem alinhados e precisos. É um exemplo valioso de como a cadência narrativa pode prender o leitor, mesmo quando a profundidade psicológica não é o forte. Outro aprendizado é a construção da atmosfera. Ele não se perde em descrições poéticas, mas dosa informações com precisão cirúrgica. A cidade pequena, o jornalismo investigativo... tudo serve ao clima, mostrando que, às vezes, menos é mais.
Porém, cá entre nós, escritores: os personagens de Donlea são como rascunhos de arquétipos. Eles cumprem funções, mas não respiram fora das páginas. Como contraponto, acredito que nosso desafio é criar almas com motivações autênticas, contraditórias e singulares, porque é isso que transforma uma trama boa em inesquecível.
Em A Garota do Lago, noto uma dependência excessiva da reviravolta final. O livro aposta todas as fichas nela, e, quando ela não surpreende, a estrutura treme. E aqui deixo o meu lembrete: o caminho de uma narrativa deve ser tão saboroso quanto o seu destino. E as emoções dos personagens devem ser a matéria-prima, não apenas ferramentas que os levem de um ponto a outro.
No fim das contas, A Garota do Lago é como um bom encontro casual: divertido, eletrizante, mas que não deixa saudades. A nós, leitores e escritores, resta agradecer pelos aprendizados e seguir navegando, entre águas rasas e profundas, sempre em busca da próxima grande história.
Um abraço literário!
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1 Comentários
Eu até gostei de Deixada Para Trás, mas A Garota do Lago nunca entendi o hype que ecooa até hoje. Acho as personagens femininas rascunho do queria uma mulher.
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